Vejo o cortejo passar e sei que não há cadáver sendo transportado. É um ser vivo que se encontra deitado, descansando profundamente como um leão depois de consumir sua presa. O caso é que nosso amigo ali é que foi consumido, ele presa do tempo, que lhe retribui com o descanso. Preocupa-me o fato de poucas pessoas saberem reconhecer um cadáver. Quase ninguém o sabe!
Por que será que ele não acorda? O que estará sonhando? Alguém certamente achará qu’estou tratando com eufemismo um fato grave, qu’estou poetizando a morte; como eu disse, poucos sabem reconhecer um cadáver…
Há o tempo linear e o tempo dos acontecimentos. Nem tudo que ocorre é um acontecimento. Reconheçamos, não há coisas marcantes vindo com muita freqüência nessa vida; sem falar que é preciso que produzamos esse acontecimento, que intervenhamos e nos concentremos no evento. Pois bem. Somos responsáveis pelo que produzimos.