Memórias de um Sobrevivente Inventado em uma Madrugada cujo sonho não viria entre um fechar e um abrir de olhos, porém através de uma janela e um caderno vivo. Os direitos autorais serão do pássaro que, dispondo do poste de luz da praça, canta a partir das três da manhã por não saber porque segue tão fraca a luz do “Sol”?
– Onde está a poesia que serve a isto, que poeta, ante tal discrepância existencial, levantaria um lápis ao invés de se recolher por detrás dum escudo? Indagava-se o padre, em meio aos bombardeios em sua cidade, iniciados havia poucos dias. A razão humana e, no caso deste personagem, a fé também, está pronta a abdicar de suas frivolidades para dar conta de contingências. Não os entendemos porque já não os temos entre nós com tanta frequência; e se carecemos de poetas é porque somos violentados – de que benefício podemos dispor na literatura se o estupro está sempre entre o livro e a esquina? Houvesse mais poetas para atender essa demanda geométrica, estaríamos mais confortáveis para as reações adversas às nossas escolhas morais. Se há poetas, quer dizer que o tempo ainda nos frequenta pausadamente, envelhecemos com certa gratidão e gentilmente a nostalgia nos virá entre o Alzheimer e a Impotência – até que todas vontades não sejam mais que prazerosas lembranças – o que não perceberemos, então. Não temos poemas, temos o Diário Oficial “e isso deve bastar, caro Doutor”.
As placas, com seus versos anônimos tão modernistas e autoritários, podem ser lidas até do avesso que a significação é a mesma: não pare para ler, que a lei já vai por entre o fígado e o intestino até você, atenção à estrada, caro cadáver, pois ninguém te há de recolher!
Minhas condolências a todos.
Doe, por favor ou por dever, vosso sangue ou plasma, esperma, medula, saliva, tecidos, órgãos, vida, tempo, dinheiro, força de trabalho, faça como os médicos, todos cirurgiões-gerais d’alma que inventamos ter, prolongue o sofrimento por aí – ou desligue seus aparelhos.